O de todo dia
Solidão é uma porra de um lugar comum. Tava tocando ukelele, o que faço muito mal , mas como só faço isso em ano bissexto o fura bolo da mão esquerda tá doendo quando digito. Ta dolorido de apertar as cordas. Talvez tenha entrado algum pelo macroscópico quando eu cocei a barba. Tá estranho. Essa de pelo microscópio parece piada, mas não é, meus pelos são super afiados, já fiquei com um preso na mão, incômoda para um caralho.
Tô com vontade de publicar assim, tudo errado. Não que eu seja grande coisa digitando, mas com esse dedo dolorido o negócio tá além de todos os limites.
A primeira frase do parágrafo passado veio do Rubel que tá no fone. Eu escuto Rubel quando eu tô solitário e masoquista. A música deles, ou dele, não sei se é um cara ou uma banda, tem esse dom de te dar prazer enquanto te lembra do que você tá perdendo.
Eu vou editar, não vou sacanear de proposito com o número entre zero e dois fatorial de pessoas que vão ler isso.
E vocês? Conhecem o Rubel? Conhecem a solidão masoquista? A solidão acompanhada, super lotada, de ser a porra de um ser humano único e compreensivamente incompreensível para outros seres humanos? De não encontrar ninguém que entende mais do que um ou dois dos seus lados por vez, e só por umas horas por semana, no máximo?
A gente tende sempre a pensar que é especial, que é singular, mas não é. Todo mundo sente as mesmas coisas. A diferença é só de química cerebral, de taxa de gordura, de densidade de folículos capilares, de grana, de estar em Paris ou não. Só diferença besta. Todo mundo quer dividir coisas, a diferença é só que o meu conjunto de coisas pra dividir é nichado e desinteressante.
A única coisa realmente universal que eu tenho pra dividir é o fato de não ter com quem dividir. Talvez um fura bolo dolorido, sei lá (ainda se fala fura bolo?). Isso, e um clipe com aquela nojinho da marina rui barbosa em que a música em si nem é lá grandes coisas, mas, como o clipe é do Rubel, e alguém por lá com certeza é um cineasta frustrado, o vídeo com a historinha que eles bolaram é uma obra de arte.
Eu adoro esse clipe. O Rubel, mais uma vez, não sei se é um cara ou uma banda, faz um cara, algum ex namorado dela, de algum relacionamento que não deu certo, que terminou pela distância. Ele é meio feio, e isso me agrada. Me pega, na verdade, porque me provoca identificação com ainda mais força.
A historinha do clipe é sobre como coisas passam, e como, a certa altura, a gente não tem mais escolha. A vida se cristaliza, e você não consegue mais sair do lugar sem quebrar tudo ao redor, sem se cortar, sangrar e, dependendo da sua idade, descobrir que a sua última antitetânica foi durante o governo Sarney.
Não sei qual era intensão de quem escreveu esse maldito clipe. Se era pra eu achar isso bom, ruim, ou comprar uma bicicleta. Enfim, o masoquismo. Acaba que eu fico horrorizado com um monte de coisas com as quais já me horrorizei mil vezes, com as quais me horrorizo todo dia e, inacreditavelmente, ainda horrorizam igualzinho. Masoquismo. Por algum motivo, contemplar o horror vicia.