Quando, pela primeira vez, soube do principezinho inquirindo por carneiros, me encantou a suavidade. Vi ali, reverberada em cabelos de trigo, a marca forte da infância, o dom que é carregar olhos ingênuos.

Olhos que perdemos cedo, com a obrigação soturna de vivermos expulsos do éden da nossa própria história. Relegados. Capturados pelo envelhecer das ternuras e das carnes. Terrivelmente embrutecidos pelo hostil.

Despenca sobre nós uma realidade árida e impiedosa, que comprime o que somos com a força de mil atmosferas até só restar um grão de arroz vermelho sangue. Nos circunscreve o espírito. Dali não saímos mais, já não é possível.

Então, os olhos do principezinho se fecham em nós. Adiante, o turvo da segunda vista, castigada em excessos, nos impede de ver a perfeição dentro da caixa, o elefante dentro da cobra. Transforma o mundo inteiro em uma loja de chapéus.